quarta-feira, 8 de junho de 2011

Artigo Sensei Andre Laskoski

Crianças, Artes Marciais e uma Viagem Pelo Imaginário


Lutar, conquistar, vencer… são sentimentos próprios da natueza humana. Quem quando criança (principalmente meninos por uma questão cultural) não desejou ser piloto de corrida, jogador de futebol ou lutador?

Toda criança quer conquistar seu espaço, quer ser forte, ser percebida, valorizada e sentir-se grande, esse sentimento motiva e gera situações corriqueiras, onde a criança aprende a resolver os conflitos próprios da sua idade e exercita a gerência de seus sentimentos, facilitando o processo de crescimento pessoal.

Neste processo, as Artes Marciais tem ampla função na transmissão de valores, porém, às vezes são vistas com certa desconfinça. Nos tempos atuais tomam grande importância na fundamental ação de educar, por muitos, pode ser considerada um rotina banal de exercícios mas, para outros, pode representar uma ferramenta de excepcional importância educativa.

Observo que a sociedade tem por regra não valorizar a imaginação, enquanto para as crianças, imaginar é o mesmo que vivenciar. As Artes Marciais, tal qual o jogar, possibilitam o desenvolvimento da criatividade estratégica e do raciocínio, assim contribuindo na formação intelectual e emocional da criança. As “lutas, fazem com que a criança sinta-se singular…única… já que aí encontram a possibilidade de se expressar de acordo com seus sentimentos e, ao mesmo tempo através de regras exercitar o controle das emoções.

Há quem discorde e até seja contra as Artes Marciais sob os mais diversos argumentos, mas também há quem as considere uma ferramenta didática e pedagógica, porém cada vez mais há quem defenda sua importância e atuação decisiva na formação e no desenvolvimento do humano que existe e cada um, principalmente em determinadas fases da infância. Por parte de pais, é comum ouvir certos comentários a cerca da mudança de comportamento de crianças tímidas que melhoraram sua auto-estima ou, de crianças ditas indisciplinadas que aprenderam a controlar seus impulsos.

Em toda história infantil, assim como nos desenhos animados, a trama central se desenvolve em torno da “saga de um herói”, da mesma forma, uma criança, quando pratica uma Arte Marcial, em sua mente de ela se torna o “herói”. Ao professor cabe orientar a busca pelas “virtudes e os valores do herói” que já existe nesta criança. Vencer ou perder, chorar ou lutar, desistir ou continuar… são sentimentos controversos, entretanto, isto também se constitui em uma ferramenta educativa, pois interagir com o outro através da “luta”, buscando e executando valores, é imensamente proveitoso e interessante ao desenvolvimento da identidade da criança. Através desse intenso movimento, ela – a criança, tem a possibilidade de ensaiar seus papéis na sociedade, ou seja, as Artes Marciais quando bem orientadas – e isso é primordial, além de motivadoras, transmitem à criança valores, adaptando-se a situações reais e transportando esses valores para a vida cotidiana, como também desencadeia idéias, opiniões, sentimentos e criatividade estratégica, antecipando situações que a criança só iria experimentar na vida adulta.

Essa proposta pode e deve ser um motivo de reflexão entre os professores, orientadores, psicólogos, profissionais das Artes Marciais e demais àreas da educação, acerca das Artes Marciais num contexto educativo. Para isso se faz necessário que a comunidade educacional, tenha uma maior intimidade com as Artes Marciais, para que possam favorecer ou, pelo menos, não atrapalhar o encontro das crianças com este universo.

Entretanto, não vamos “tapar o sol com a peneira”, como já disse anteriormente nesta coluna … As Artes Marciais valem tanto quanto vale quem as ensina… Nem todo doce é bom, assim como nem toda a escola também é, da mesma forma refletimos sobre as Artes Marciais… e isto vale para qualquer àrea de atuação humana, assim sendo, para que não hajam generalizações, torna-se importante separar os profissionais pelas suas idéias e ações. As Artes Marciais são sim úteis à educação, dependendo de quem, para quem, quando, como e com que objetivos as ensina. É importante destacar que quando a criança “luta”, ela o faz para si mesma, com a finalidade de firmar-se como “grande” e, espera, mesmo que de maneira inconsciente, uma resposta positiva do meio que a cerca, por isso, defendemos que as Artes Marciais devem ser ensinadas em escolas especializadas.

A criança “luta” para se expessar, de maneira viva, dotada de sentimentos que no adulto vão estar apagados na forma consciente, ela representa à sua maneira o mundo que deseja para si.


Andre Laskoski
Associação Heian Dojo
http://www.dojo.esp.br/